Oficina de teatro revelou talentos escondidos de quem nunca fez teatro na vida.
O que era para ser apenas uma oficina de teatro para não atores, acabou se tornando um show de talentos com duas apresentações - uma apenas para convidados, que foi ontem (14/12), e uma aberta ao público, que vai rolar hoje (15/12). O espetáculo “Show de Talentos – Eu quero! Eu posso! Eu consigo!” é o resultado da oficina que começou em agosto, no Centro Cultural José Octávio Guizzo.
Com 15 artistas no palco, o show mostra que todo mundo tem um lado artístico e que isso só precisa ser estimulado para vir à tona. Com cenas que falam de amor, infância, poesia, dança, música e até de política e racismo, o grupo explorou ao máximo as habilidades de cada um, descobertas pelo diretor Marcelo Leite durante as oficinas.
“Para nossa surpresa, o que era para ser uma oficina de desinibição acabou revelando alguns artistas e daí surgiu a ideia, com alguns textos autorais, cenas, sugestões, músicas e poesias, tudo trazido por eles mesmos”, conta o diretor.
A oficina mal acabou e os participantes já notam que alguma coisa está diferente.
A estudante Georgia Góes, de 16 anos, além de ter transtorno do espectro autista, tem o sonho de fazer um musical. Em sua estreia, ela soltou a voz e mostrou que quis, pôde e conseguiu.
A mãe, Daniela Reis, não conseguiu esconder a alegria de ver a filha superando suas limitações. “É algo maravilhoso, ver ela vencer o desafio de ficar com pessoas desconhecidas, ter esse contato físico, abraçar. Cantar então, nem se fala!”, comemora. Já o pai, Adilson Oliveira, diz que sempre soube do talento da filha. “Ela canta rock do Queen. É a nossa Freddie Mercury de saia”, brinca.
Marcelo Leite explica que, montar um espetáculo não era o objetivo inicial do projeto. “No decorrer do processo, a gente percebeu que eles queriam sair da plateia e ir para o palco, então adaptamos a oficina, para que eles pudessem ter essa experiência. No domingo, eles vão poder dizer se querem mesmo fazer teatro ou não. Mas pra saber eles precisam passar por isso, experimentar”.
E parece que o método já surtiu efeito. Nerly Balbim, de 49 anos, a “mãezona da turma”, sempre teve vontade de conhecer o teatro, mas só agora teve a oportunidade.
“Na minha época a gente não tinha acesso. A gente morava em sítio e só ouvia falar. Sabia que existia, mas não tinha noção de como era nem uma sala de teatro”, explica ela, que ao ser perguntada se gostou da experiência, responde sem pensar duas vezes: “quero continuar!”.
A assistente social Lola Lima, de 31 anos, é a dona do lema “Eu quero! Eu posso! Eu consigo!”, que deu nome ao espetáculo. Ela diz que traz esse mantra consigo desde a infância, quando teve de superar o bullying dos colegas na escola.
“Eu uso pra tudo na vida. Quando fui fazer o ENEM, eu falei essa frase pra mim mesma. Quando entrei na faculdade, a mesma coisa. Ela serve pra vida toda. A vida é assim, a gente que determina como ela vai ser”, filosofa.
Mas nem todo mundo na turma quer viver no teatro. É o caso do engenheiro civil João Julio da Silva, de 26 anos, que soube da oficina pela namorada, a estudante de design Thays Fraga, que também participou.
“Agora que todo o processo tá terminando, é claro que fica aquele gostinho de quero mais, mas pra mim o teatro tem sido uma válvula de escape do estresse da rotina de projetos, visita em obra, essas coisas da minha profissão. Quando piso na sala de ensaio o meu dia fica melhor, as preocupações somem”, relata ele.
Já Thays vê outros resultados: “é engraçado porque foram só seis meses de oficina e hoje eu já me sinto outra pessoa. Consigo me comunicar melhor, e às vezes até converso um pouco com desconhecidos, coisa que para mim era impossível”, observa ela.
Matéria de Gustavo Maia.
Caderno B - CampoGrandeNews
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