Ô marinheiro, quem te ensinou a nadar?
Esse ano eu perdi meu pai. Com a perda, uma vontade grande de viver, de não deixar escapar o tempo pelas mãos, tirar os planos do travesseiro. Quanto tempo a gente passa dormindo?
Resolvi fazer as coisas que gostava. Nessas de querer me encontrar, surgiu a oportunidade da oficina. Eu recém havia feito um curso de dramaturgia da escrita e me interessei bastante pelo casamento entre literatura e adaptação teatral.
Cheguei às aulas com uma vontade enorme de entender o processo de preparação do ator, fazer chegar a mensagem, como contar uma história representando um personagem em cena.
O curso, como o nome já diz, para não-atores, não me formou para ser uma estrela do palco, mas estou saindo dali como alguém consciente dos papéis que representamos todos os dias.
Desde a hora que levanto, escolho uma peça de roupa, uma cor de batom, ou a falta dele - ali eu estou preparando quem eu serei nas próximas horas. Funcionária pública? Aluna de pós? Ciclista? Neta aos domingos? As ocasiões nos fazem atuar, o tempo todo.
Nas aulas, aprendi que o corpo precisa ser despertado para que nossos sentidos estejam sensíveis ao redor. Aprendi também que não somos nada sozinhos, e que o trabalho em grupo - num momento em que o individual tem se sobressaído ao coletivo - nos acolhe e nos fortalece.
Muitos dos exercícios que fazíamos eram sobre perceber o outro.
Parece que meus olhos ficaram despertos para observar qualquer movimento. Um mover que já havia em nós: ali descobrimos uma dançarina, uma cantora, uma poetisa, uma contadora de histórias de corredor, uma mãe e seu amor pela filha, um compositor, um diretor apaixonado.
Todos nós, integrantes-navegantes da oficina, acrescentamos ao longo do curso cores que preenchiam o nosso preto e branco (como a aluna Flávia bem declama em seu poema) com as experiências que trazíamos de fora dele.
Estou saindo com o benefício da inquietude: sem saber como seria, agora caminho para a aventura da “escritação”. O palco da vida está montado.
Que história você quer contar?
Por Yaisa Melina
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